'Pelado' do Vaticano tinha sonho de morar em Roma; família está perplexa

  • Luis Carlos Giampaoli posta foto na Itália
    Luis Carlos Giampaoli posta foto na Itália
Técnico de Enfermagem com ampla experiência, cozinheiro de mão cheia, muito religioso e dono de uma inteligência diferenciada. Como sonho de vida, viver na Europa, especificamente em Roma. Assim familiares descrevem o brasileiro Luis Carlos Giampaoli, 44, detido na última segunda-feira (4) no Vaticano depois de entrar nu na Basílica de São Pedro.
O vídeo feito por um turista rodou o mundo. Nele, Luis aparece vestindo apenas meias, tênis e uma mochila preta enquanto levanta os braços e grita que "não há solidariedade em Roma", dizendo que demorou 17 anos para conseguir a esperada cidadania italiana e agora teve que dormir nas ruas.
Segundo filho de uma família com sete irmãos, Luis é solteiro e não tem filhos. Os pais, já mortos, passaram toda a vida em Laranjal Paulista (a 159 km de São Paulo). Neto de imigrantes italianos, Luis mudou-se para São Paulo há cerca de seis anos, onde concluiu um curso técnico de enfermagem e chegou a trabalhar, segundo a família, em hospitais de grande porte, entre eles o Hospital das Clínicas. A reportagem confirmou que ele tem registro no Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo.
Segundo a irmã Cláudia João Paulo, ele também fez curso de gastronomia e teatro. "Sempre se deu bem em tudo, estava feliz em São Paulo. É muito inteligente, tem facilidade em aprender. Mas sempre falou de ir para Roma, queria a cidadania. Desde antes de se mudar ele fala nisso", conta.
Cláudia conta ainda que Luis é o único dos sete a conseguir a cidadania italiana. Para isso, teve que ir a Itália e corrigir um erro cometido pelo funcionário do cartório que registrou os avós. "O certo é Giampaoli, mas o funcionário errou e todos, desde o meu avô, foram registrados como João Paulo. Ele foi até lá e conseguiu provar que estava errado e mudou o nome para conseguir a cidadania", conta.

Motivos

Também irmão de Luis, o eletricista Alexandre João Paulo, que mora em Cerquilho (a 140 km de São Paulo), conta que, na família, ninguém tem ideia do que levou o irmão a entrar pelado na igreja.
"Ninguém tinha ideia de que ele estava com problemas. Mandava fotos sempre, a maioria em pontos turísticos de Roma, e não se queixava sobre falta de dinheiro", conta.
Reprodução/Twitter/@EdoardoBuffoni
Luis ficou pelado na Basílica de São Pedro
Já o primo Gustavo Giampaoli disse que conversou com Luis no fim do ano passado e afirmou que ele tinha se mostrado um pouco "amargurado" pelo fato de as coisas na Itália não correrem exatamente como ele planejava. "Ele imaginou que, com a cidadania, conseguiria um padrão de vida diferente em Roma, mas não foi o que ocorreu. Acho que ele se decepcionou", conta.

Surpresa

Já Estevam Torres Silva, 38, que se diz amigo de Luis, contou que não consegue entender a ação do brasileiro. "Ele tem um dom, já cozinhou para mim e o faz divinamente. Não consigo imaginar o que possa ter acontecido. É uma pessoa especial", disse.
Uma outra parente, que pediu para não ser identificada, afirmou que a família está perplexa. "Como todo mundo, estou sem saber o porquê dessa atitude tão infeliz. Espero que ele reflita muito", disse.

Itamaraty

De acordo com a polícia italiana, o brasileiro entrou vestido na Basílica de São Pedro, mas se despiu e começou a gritar, com os braços abertos, que era brasileiro. Ele estava, ainda segundo as autoridades italianas, em estado de confusão e foi levado para a ala psiquiátrica de um hospital vizinho à igreja.
A família, entretanto, relatou que, até o fim da tarde desta quinta-feira (7), não teve notícias de Luis. Segundo os familiares, o Itamaraty está prestando auxílio nessa questão e deve ter novidades até o fim de semana.
A reportagem do UOL conversou com o Itamaraty que informou, através da sua assessoria de imprensa, que está trabalhando no caso e ciente da situação, mas que não poderia prestar qualquer esclarecimento sem a autorização da família. A diplomacia brasileira está em contato com a família.