Testemunha descreve relato sobre o assalto as agências bancárias em Igarapé Grande

Por Moacir Junior




Alta madrugada. Cerca de 2 horas e meia. Parece que todo mundo está dormindo o sono dos justos. Sonhando com os anjos. Noite fria e silenciosa.

O som de uma explosão me fez saltar subitamente da cama. A princípio me pareceu que vários botijões de gás tinham explodido ao mesmo tempo. Mas estranhei o silêncio. Nenhuma voz nas ruas. Nenhum burbúrio nas casas vizinhas. Ao longe, somente os cães latiam, assustados com alguma coisa. O silêncio (ausência de manifestação humana) era tão grande que, durante alguns minutos, imaginei que havia sonhado.

Aproximei-me para abrir uma das janelas que dá para a rua para ver se havia alguém lá fora que talvez tivesse também ouvido a tal explosão. Porém, antes de abrir a janela, senti que não devia fazer isso. Então fiquei apenas com o ouvido encostado, tentando ouvir sinais de gente. Nada.

Parece que eu tinha sonhado mesmo.

Então veio a segunda explosão (a pior das quatro que iriam assombrar Igarapé Grande). Senti o chão tremer, mas antes de pensar na hipótese de terremoto, senti um forte cheiro de pólvora. Abri a janela do quarto e vi uma grande fumaceira, na direção em que ficam os dois únicos bancos da minha cidade.


Então, a conclusão não podia ser outra. Acostumado a ouvir de explosões em caixas eletrônicos bancários (algo muito comum no Maranhão ultimamente), ficou claro para mim que algo do tipo estava acontecendo em Igarapé Grande. Mas o perturbador era o silêncio humano que continuava.

Aí entendi a razão de tanto silêncio. Todo mundo estava trancado em casa, mais ou menos consciente do que estava acontecendo. Principalmente porque alguns tiros foram disparados. Não eram tiros de confrontos, mas como se fossem apenas avisos, advertências.

Daqui a pouco mais uma explosão. E logo mais outra. Quatro, ao todo. Então, mais tiros. E logo depois, silêncio total.

Somente quando o relógio marcou 3 horas, as manifestações começaram. As ruas se encheram de gente. E todo mundo já sabia o que tinha acontecido: as agências do Banco do Brasil e do Bradesco tinham sido explodidas. Há centenas de fotos na Internet, pois, com um celular na mão e acesso à Internet, hoje todo mundo pode ser jornalista.

Por enquanto existem muitas informações, boatos e testemunhos aqui e ali. Aguardamos as notícias oficiais, que devem ser divulgadas ainda hoje, pelos principais veículos de comunicação da região.

Ah, moro no mesmo quarteirão dos bancos e um dos meus vizinhos, quando ouviu a primeira explosão, abriu a porta da sua casa e ia saindo repentinamente para a rua, para tentar saber o que houve, quando um mascarado apontou uma arma para ele e o “aconselhou” (xingando) que voltasse pra dentro de casa. É possível que eu também ganhasse o mesmo “conselho” se não tivesse hesitado em abrir a janela que dá para a rua. Parece que havia indivíduos armados em alguns pontos estratégicos das duas ruas do quarteirão, porque elas estão interligadas à rua da delegacia.

Pois é! E minha cidade vai aniversariar daqui a 14 dias. Ficou meio constrangedor com um cartão postal desse.


Moacir Junior




























Com informações do G1